segunda-feira, 11 de junho de 2012

Belo Monte, um belo horizonte!

Artigo publicado hoje, em O Liberal. Em que pese a "piada", é bem reflexivo...


Luiz Carlos Rodriguez

Felizmente estamos em Belém, longe do furdunço da Rio+20, que se inicia nesta quarta, 13, com prazo para findar no dia 22. Isso se, por falta de sonhos, não acabar antes. É a tal da badalada Conferência da ONU que pretende encontrar os mal traçados caminhos da Rio+10, quando, em 2002, conferencistas desejavam estancar o colapso do nosso planeta Terra.

Vai ser um Deus nos acuda! Tanto que o alcaide do Rio sugeriu aos cariocas e intrusos migrantes de outras plagas que deixassem a cidade ao usufruto daquelas delegações. Considerando a boa causa, tratamos de nos recolher a nossa insignificância. Afinal de contas, se fazer é bom, de que nos adianta ficar bradando aos ventos que tem que parar de nascer tanta gente!

Ao menos, os conferencistas deveriam encontrar uma forma de distribuir racionalmente esses sete bilhões de almas penadas que tentam sobreviver concentrados em ditos centros urbanos. Que os conferencistas não nos ouçam, em termos de áreas ociosas a Amazônia é um prato cheio!
Neste espaço hebdomadário já apresentamos boas ideias a respeito do que fazer, com vistas a, ao menos, minorar os sofrimentos dos belenenses. A mais brilhante de todas foi a de transferir a capital do Pará! Foi tão boa que a candidata Ana Júlia aproveitou-a como mote para derrubar seu rival, Almir Gabriel, pai da criança, nas eleições para governadora do Pará.

Gente, Belém não tem jeito! O certo seria aproveitar a cidade como um todo para transformá-la em Patrimônio Histórico da Humanidade, assim como fizeram, na moita, os mineiros, quando transferiram sua capital Ouro Preto para Belo Horizonte. Por que os paraenses ainda não enxergaram Belo Monte, como um belo horizonte? Verdade seja dita, Belém do Pará ficou uma cidade tão bonita, ao tempo em que Almir Gabriel entregou-a aos cuidados do arquiteto Paulo Chaves, que não achamos justo restringir somente seu núcleo primordial como Patrimônio Histórico.

Hoje, fora daquele núcleo é só ruínas e fedentinas, aqui e acolá. Semana passada, constrangidos, levamos ilustre visitante paulista a conhecer o Ver-o-Peso e suas adjacências. A pessoa queria porque queria conhecer o cartão postal do Pará. Antes de sair para o roteiro turístico elaboramos uma trajetória dos trechos a serem evitados no mapa da cidade. Em tinta carmim, desenhamos uma caveira de pirata no cruzamento da travessa Frutuoso Guimarães com a rua Ó de Almeida, dada a existência de “secular” bueiro de águas putrefatas, o qual, de quando em vez, somos obrigados a transpor sempre que necessitamos dos serviços de importante cartório notarial na confluência sediado.

Imaginamos a quantidade e a “qualidade” dos esgotos, oriundos dos sanitários de bares e “restaurantes” e do próprio cartório, instalados nas adjacências, lançados naquele ponto, sem que ao menos s sejam subterrânea e discretamente destinados à baía do Guajará.

É de lastimar o estado em que jaz o monumental prédio dos Mercedários, várias vezes recuperado, cujo telhado está sendo “camuflado” por esdrúxula vegetação, donde se destacam portentosos arbustos, projetos de frondosas árvores. Consta-nos que, justo naquele imponente prédio, funciona a Delegacia do Patrimônio da União a qual deveria manter incólume o patrimônio tombado, antes que literalmente tombe.
Aliás, alguém deveria tratar de tombar a Estação Elevatória de Esgotos EEE Domingos Teixeira - quem foi esse cara? - e rejuvenescê-la como parte da agenda da Rio+20. Trata-se de importante e única obra realizada pelos ingleses, sita à rodovia Artur Bernardes, às proximidades do Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a mando do Intendente Antônio Lemos, no início do século passado, quando sonhou Belém como uma cidade tão bonita e saneada quanto Paris.
A propósito, muito oportuna a entrevista do psiquiatra Augusto Cury, neste jornal publicada, no último dia 3, quando ensinou-nos a diferença entre sonhos e desejos. Supomos que o atual intendente confunda os conceitos. Haja vista a propaganda de suas “realizações”, para nós, restritas ao campo dos desejos...

Luiz Carlos Rodriguez é engenheiro civil e jornalista.

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