segunda-feira, 4 de março de 2013

Leiska Diniz


A primeira vez que cortei o cabelo curtinho, em 2003, ouvi que estava parecendo com a Leila Diniz, atriz carioca que nos anos 60 e 70 marcou seu nome na cultura brasileira com seu talento e, sobretudo, sua personalidade forte e estilo ousado.
Obviamente, amei a comparação!
De lá pra cá, já escutei isso algumas vezes, a depender do visual que adotava. Mas há dois meses aconteceu algo muito curioso. Navegando pela web me deparei com esta foto da Leila, que achei tão bonita que resolvi usar como avatar no meu perfil do facebook. E, acreditem, muitas, muitas pessoas elogiaram a "minha beleza".
Ao advertir que se tratava de Leila Diniz, os comentaristas se mostravam desconcertados e surpresos (!)
Foi como brincou um amigo, é a Leiska Diniz.

Não, não tenho a pretensão de me comparar a essa diva, mas não nego que fico envaidecida de ter um tiquim de semelhança com ela. 

E como já disse Rita Lee, toda mulher é meio, né?



Quatro décadas sem Leila Diniz

Gabriel Daher - Revista Os Brasileiros
14/06/21012

De professora infantil a símbolo sexual e feminista, a atriz fluminense Leila Diniz teve uma breve, mas meteórica vida, tragicamente interrompida em um acidente aéreo na cidade de Nova Délhi, na Índia, há exatos 40 anos. A bordo do voô JAL 471, da Japan Airlines, que explodiu em 14 de junho de 1972, Leila Diniz, então com 27 anos, foi uma das 82 vítimas do desastre. A atriz retornava de uma viagem à Austrália onde divulgara o filme “Mãos Vazias” no Festival Internacional de Adelaide.


Leila havia decidido retornar ao Brasil mais cedo para rever sua filha Janaína, então com sete meses de idade, fruto de seu relacionamento com o diretor moçambicano Ruy Guerra – radicado no Brasil desde 1958 – com quem era casada.
Mais do que mãe e atriz, Leila Diniz se consolidou como uma das figuras femininas mais emblemáticas e significativas do Brasil contemporâneo. Com seu comportamento exacerbado, a atriz e celebridadade não tinha papas na língua nem medo de cara feia.
Soltando o verbo - Em sua mais famosa e polêmica entrevista, dada ao jornal O Pasquim em novembro de 1969, Leila fez juz à expressão “soltar o verbo”, disparando algumas de suas mais célebres frases, como: “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo”, e outras ainda mais apimentadas, cujos diversos palavrões precisaram ser “maquiados” pelo periódico.
Mais do que o estardalhaço midiático, a entrevista causou verdadeiro furor nos orgãos de censura da ditatura militar então vigente no País. No dia seguinte de sua publicação, foi estabelecido o Decreto nº 1.077, uma das mais severas leis de censura à imprensa até então. Ironicamente, a lei passou a ser chamada “Decreto Leila Diniz” por seus detratores.
Outra das maiores polêmicas de Leila foi o registro – estampado em diversas capas de revistas e jornais – da atriz, então grávida de seis meses, usando biquíni na praia de Ipanema, em 1971. A imagem, hoje quase pueril, escandalizou a classe média e os conservadores da época, que a atacaram com veemência.
Tempos Difíceis - Musa do Cinema Novo, em franca ascenção no País, Leila era amiga íntima de personalidades como Chico Buarque, Marieta Severo e Flávio Cavalcanti, responsável por abrigar a atriz em seu sítio quando sofreu forte perseguição do regime ditatorial. Foi Cavalcanti também quem estendeu a mão para a atriz em um dos momentos de maior dificuldade de sua vida.
Renegada pela TV Globo, onde havia integrado o quadro de atrizes, e ofendida por diretores de televisão, que diziam “não haver papel de puta na próxima novela”, Leila se tornou jurada do programa de Cavalcanti, quando chegou a sair escondida no banco de trás do carro do apresentador para não ser interpelada pela Polícia Federal, que a aguardava na entrada do estúdio da extinta TV Tupi.
Legado - Se estivesse viva, Leila estaria hoje com 67 anos, provavelmente muito diferente da figura sensual, debochada e corajosa que encantou – e provocou – o Brasil conservador dos anos 60 e 70.
Apesar de quatro décadas terem se passado, Leila continua viva no imaginário cultural brasileiro. “Toda mulher é meio Leila Diniz”, cantou Rita Lee em “Todas As Mulheres do Mundo”. Erasmo Carlos também a homenageou em “Coqueiro Verde”, um de seus mais elogiados sambas. “Como diz Leila Diniz, o homem tem que ser durão”, compôs o Tremendão.
Recentemente, a atriz também foi celebrada na seção Retratos da Vida, publicada no site do jornal Extra, onde as globais Luana Piovani, Mel Lisboa e Hermila Guedes reproduziram algumas de suas históricas fotografias.
Com quatorze filmes, doze telenovelas e diversas peças teatrais em seu currículo, foi mesmo através de suas atitudes e declarações que Leila Diniz deixou seu maior legado, afirmando o papel sexual, social e independente da mulher brasileira em uma sociedade com fortes tendências machistas e sob as rédeas curtas de uma implacável ditadura militar.
A receita para tamanha liberdade e simbolismo parece estar escancarada em uma das mais famosas e reproduzidas declarações de Leila: “Viver, intensamente, é você chorar, rir, sofrer, participar das coisas, achar a verdade nas coisas que faz. Encontrar em cada gesto da vida o sentido exato para que acredite nele e o sinta intensamente.”

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