sábado, 3 de janeiro de 2015

E ninguém mais vai me tirar o direito de ser negra

Resolução 2015: enegrecer.

E quando alguém ousar dizer que não sou negra, vou esfregar meu cabelo na cara. Não farei o mesmo com a boca porque aí vai virar saliência.

Sou neta de negro, tenho tios e primos negros. Minha mãe, que saiu à minha avó de sangue, foi criada por outra família e eu não cresci com esse contato profundo com a família de sangue. Mas me enchi de orgulho quando soube que eu tinha sangue preto nas veias correndo com tanta proximidade, do avô.

Já fui piada no grupo onde eu dançava, na adolescência, porque eu dizia ser negra. Já fui esculachada por me assumir negra por uma liderança do movimento afro. Ela disse que eu tinha que "me enxergar". Eu tinha 20 anos e aquilo doeu em mim de um jeito que nunca soube explicar. Aquela mulher, estudiosa no assunto, disse que eu não era o que eu achava. Passei a ter vergonha de me declarar como tal. Não queria de novo passar por ridícula, patética, excêntrica aos olhos dos outros.

Mas nos últimos anos a consciência política que me toma, a indignação que cresce no peito a cada novo atentado de racismo que vejo/leio/escuto, a emoção que eu sinto a cada novo avanço social obtido e o arrepio que os batuques me causam cada vez mais me dão muita segurança pra dizer: EU SOU NEGRA.

E não venha você ou qualquer outro sujeito ousar me dizer o contrário.

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PS: dedico este post a minha amada Thiane Neves Barros, por todas as reflexões que ela me proporcionou durante as conversas em Bragança. Ratificaram meus sentimentos. Te amo!

PS 2: Não vou me autodeclarar negra apenas em uma situação: concurso público. E a razão é simples. Ainda existem irmãos que tiveram muito menos oportunidades que eu, pra quem essas cotas foram criadas.

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